Aspectos Psicológicos na formação do atleta
ASPECTOS PSICOLÓGICOS NA FORMAÇÃO DO ATLETA
O reconhecimento da importância dos fatores psicológicos no rendimento esportivo tem sido uma constante no mundo competitivo. Isso porque, embora não se saiba ao certo quais as variáveis atuam no comportamento de atletas e equipes esportivas, tem-se a certeza de que as questões emocionais tornam-se o diferencial nos momentos decisivos, uma vez que a paridade técnica é cada vez maior no alto rendimento. Diante dessa situação tem sido cada vez mais freqüente a solicitação pela Psicologia do Esporte para auxiliar na formação e preparação de atletas. É preciso compreender, entretanto, que a atuação da psicologia não se limita a utilizar uma série de questionários, que em numerosos casos são inúteis, inapropriados e, por vezes, prejudiciais ao trabalho, ou preparar atletas para que dominem habilidades de auto-aplicação de atividades de imaginação ativa ou relaxamento.
A área de atuação da Psicologia do Esporte é maior e mais relevante por contemplar o funcionamento psicológico como um elemento essencial do âmbito do rendimento esportivo, em conjunto com a preparação física, técnica e tática. As demandas de cada modalidade esportiva exigem que o atleta responda de maneira distinta às diversas situações, as quais é exposto ao longo de sua carreira esportiva, para poder decidir e atuar com maior eficácia possível e obter êxito em sua empreitada. Nessa perspectiva, a preparação psicológica pode influir positiva ou negativamente no funcionamento físico, técnico e tático do atleta e, portanto, é muito importante controlá-lo na direção adequada, com o objetivo de otimizar o rendimento esportivo, dentro de uma perspectiva de respeito aos limites e limitações do atleta.
Esse trabalho deve ser executado em um conjunto de preparação global, como um elemento a mais que deve interatuar com as demais especialidades envolvidas no processo. Basicamente, essas especialidades se dividem em três grupos: um deles, externo ao atleta, inclui procedimentos de observação da conduta e técnicas de intervenção que os técnicos, médicos, fisioterapeutas e outros profissionais próximos podem incorporar no seu procedimento em relação aos atletas; outro grupo, compreende as técnicas de auto-observação e auto-aplicação que os atletas podem utilizar em seu repertório de condutas úteis; e o terceiro contempla as estratégias de aplicação mais complexa que pode utilizar o psicólogo esportivo, trabalhando diretamente com os atletas. É papel do psicólogo do esporte responsabilizar-se pela detecção e avaliação das necessidades psicológicas dos atletas, bem como o planejamento, em conjunto com o técnico, do trabalho de desenvolvimento de habilidades emocionais para enfrentamento de situações de treinamento e competição. Vista dessa forma, a preparação psicológica é mais um dos vários elementos da formação do atleta que não deve ser nem menosprezado, nem supervalorizado.
As várias Psicologias do Esporte
[Março 2003]
É comum associar a Psicologia do Esporte a um tipo de prática esportiva que tem a vitória como objetivo e a televisão como veículo de divulgação de resultados. Nessa dinâmica o psicólogo é visto como aquele profissional que tem como obrigação fazer com que o protagonista do espetáculo, no caso o atleta, renda o máximo. Cuidado. Pode haver dois equívocos nessa afirmação.
O primeiro deles é que o conceito de esporte, pelo menos aquele associado à Psicologia, comporta bem mais que o esporte de alto rendimento.
O segundo é que o psicólogo não está, ou não deveria estar, apenas associado ao resultado obtido pelo atleta ou equipe esportiva. Nosso compromisso com o esporte não é diferente daquele estabelecido com as demais áreas da psicologia.
Então onde estamos e o que fazemos?
Se tivermos a atividade esportiva ampliada para além da prática competitiva é possível dizer que nosso público alvo são também as pessoas ou grupos que treinam regularmente para competições sim, mas com o objetivo de superar o final da prova ou a própria marca, e não necessariamente um adversário. É o chamado esporte de tempo livre, cujo desafio maior reside na superação das questões cotidianas para a manutenção da prática da atividade. São corredores de longas distâncias que desejam participar de uma maratona ou de uma prova tradicional, são equipes de corrida de aventura que desejam aperfeiçoar as relações inter-pessoais na superação das dificuldades inerentes à convivência intensa desse tipo de prova, são equipes de veteranos que descobriram o prazer de formar um grupo e participar de torneios ampliando o círculo de amizades.
Encontram-se também nessa categoria as pessoas e grupos que freqüentam os equipamentos públicos – parques e centros esportivos – para realizar atividade física, por escolha ou indicação, e têm como maior desafio encontrar motivação para aderir à atividade.
Há ainda o chamado esporte escolar que pressupõe a relação do praticante do esporte com o ambiente da escola, nos mais variados graus. Apesar de pouco explorada no Brasil essa vertente da Psicologia do Esporte é muito desenvolvida nos Estados Unidos que tem nos colégios e universidades o locus privilegiado para a formação dos futuros profissionais. Nossos campeonatos escolares têm sido um espectro do modelo americano, uma vez que parte dos atletas que compete nessa categoria é contratada apenas para defender equipes colegiais sem ter vínculo acadêmico com a escola, gerando graves distorções entre os alunos. Por outro lado, as equipes formadas por alunos regulares padecem com o desnível gerado pela condição privilegiada dos ‘contratados’. Ou seja, há os alunos-atletas e os atletas-quase-alunos. No ambiente universitário a dinâmica é um pouco diferente. Existem disputas entre faculdades que se tornaram tradicionais e carregam anos de rivalidade construída por times e torcida. Há ainda os torneios nacionais de diversas faculdades do mesmo curso, como é o caso do Interpsi. Outro exemplo são os Jogos Universitários Brasileiros (JUB’s), que têm demonstrado excelente nível técnico, com atletas que tentam equacionar prática esportiva, atividade acadêmica e falta de apoio. Nesses casos a intervenção do psicólogo se dará considerando a faixa etária do atleta, o tipo de competição e de instituição à qual a equipe está associada, sugerindo uma diversidade de atuação e a ausência de um padrão ou modelo pré-determinado.